Os Amigos da Gravura 2023- Heberth Sobral


A partir de 15 de julho de 2023

Esta exposição nasceu de um sonho e de um encontro. Como costuma acontecer na carreira de Heberth Sobral, o acaso desempenha um papel importante. “Sonhei com uma floresta azulada, com árvores enormes e plantas baixas”, diz ele, em seu atelier na Gávea, “mas não dei muita atenção ao sonho”. Meses depois, o artista conheceu Anna Paola Baptista e com ela nasceu a ideia de uma exposição. “Comecei a pensar no projeto e a desenhar uma floresta e, de repente, lembrei-me do sonho, um deja-vu.”
A floresta, que na interpretação dos sonhos pode representar um refúgio e um tempo de crescimento – e na literatura clássica, um lugar de medo – torna-se aqui um locus imaginário de libertação, criado com plantas a partir das formas estilizadas das peças de Playmobil (cabelo, olhos, boca e braço), sempre presentes na obra deste artista, e se tornam personagens de um mundo de fantasia.
Os bonecos Playmobil sempre povoaram seu mundo e contaram sua história. Foi a avó de Heberth quem o fez descobri-los. Todos os verões, quando era criança, o artista passava férias na casa da avó, com os primos, em sua cidade natal, Muriaé, em Minas Gerais. A avó tinha uma caixa de biscoitos portugueses onde escondia esses brinquedos e, assim que Heberth chegava, os disponibilizava para ele. Como esses bonecos chegaram ao interior de Muriaé e por que a avó só os dava a este neto, nunca saberemos. Heberth, muito tímido, ou talvez por medo de perder aquele privilégio, nunca perguntou… e a avó faleceu sem revelar o motivo.
Heberth era fascinado pela simplicidade daquelas peças – linhas simples, sem narinas e orelhas, como uma criança desenha seus primeiros rostos: um círculo, dois olhos e uma boca. A paixão por este brinquedo quase proibido e inacessível continuou mesmo depois de adulto e, quando em 2005 o acaso o levou a participar de um curso de fotografia no Galpão Aplauso, ele decidiu utilizar os bonecos para narrar, sob a forma de fotografias meticulosamente construídas, o mundo que nos rodeia – muitas vezes, violento e difícil – com um tom irônico. Anos depois, os brinquedos transformaram-se em formas para reinterpretar os azulejos portugueses de 1800, depois de uma viagem a Portugal que lhe abriu novas portas.
Em 2019, os bonecos são desmontados e as linhas da Bauhaus que os haviam criado transformam-se em fragmentos que dão vida a outras formas. E nasce a série Ações, a qual tem levado Heberth Sobral a exposições na Europa e no Japão.
Hoje, estes fragmentos transmutam-se numa vegetação fantástica; as pinceladas soltam-se para contar o inconsciente de um artista mais maduro, que, como uma criança lhe disse certa vez, “tem o trabalho mais bonito do mundo, porque está sempre brincando”.

Manuela Parrino
Curadora

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